Revista de Economia e Sociologia Rural
https://revistasober.org/article/doi/10.1590/1234-56781806-94790560409
Revista de Economia e Sociologia Rural
Artigo original

A Configuração das Lógicas Institucionais do Campo da Cachaça de Alambique em Minas Gerais

André Luiz de Paiva; Mozar José de Brito

Downloads: 0
Views: 957

Resumo

Resumo:: O campo organizacional da cachaça de alambique em Minas Gerais é constituído por diferentes atores e estruturas sociais. Esta configuração passou por diversas transformações desde o período colonial, marcado pela fabricação e pelo consumo marginalizados, até a atualidade, quando a bebida se consolidou como símbolo da cultura nacional. Em certos segmentos, a cachaça figura, inclusive, como um produto de alta distinção social e ampla inserção no mercado externo. Nessa direção, este trabalho teve como objetivo descrever a configuração das lógicas institucionais que constituem esse campo organizacional. Inicialmente, procuramos resgatar o contexto sócio histórico da bebida por meio de fontes documentais e entrevistas com atores que representam organizações do campo. Em seguida, delineamos as quatro principais lógicas que servem de referência para os produtores de cachaça de alambique, a saber: tradição, mercado, Estado e a lógica técnico-científica. Descrevemos os principais aspectos constitutivos destas lógicas, destacando seus pressupostos e orientações em relação a práticas e à dimensão simbólica. Nessa direção, foi possível evidenciar como a dinâmica institucional, especialmente a partir da emergência da lógica técnico-científica, orientou mudanças na configuração normativa da produção e do consumo de cachaça.

Palavras-chave

Cachaça de alambique, lógicas institucionais, pluralismo institucional.

Referências

AMPAQ - Associação Mineira de Produtores de Cachaça de Qualidade. Legislação e Tributação, 2016. Disponível em: <Disponível em: http://www.ampaq.com.br/?op=conteudo&id=137&menuId=147 >. Acesso em: 03 dez. 2016.

BERGER, P. L. e LUCKMANN, T. A construção social da realidade: um livro sobre a sociologia do conhecimento. 2. ed. Dinalivro: Lisboa, 2004.

BESHAROV, M. L. e SMITH, W. K. Multiple institutional logics in organizations: explaining their varied nature and implications. Academy of Management Review, v. 39, n. 3, p. 364-381, 2014.

BONFIM, L. R. C., ABIB, G. e GONÇALVES, S. A. Lógicas institucionais no estudo da estratégia como prática: uma proposta de relação entre o conceito e a abordagem. In: 8thIberoamerican Academy Conference, 2013, São Paulo - SP. Anais do 8th Iberoamerican Academy Conference, Vol. 8, 2013.

BRAGA, M. V. F. e KIYOTANI, I. B. A cachaça como patrimônio: turismo cultura e sabor. Revista de Turismo Contemporâneo - RTC, v. 3, n. 2, p. 254-275, jul./dez. 2015.

BRASIL. Ministério da Agricultura. Decreto nº 2.314 de 4 de setembro de B. CEPPA, Curitiba, v. 22, n. 1, jan./jun. 2004 95 1997. Regulamenta a Lei nº 8.918 de 14 de julho de 1994, que dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 5 set. 1997.

BRASIL. Decreto nº 4062, de 21 de dezembro de 2001. Define as expressões “cachaça”, “Brasil e “cachaça do Brasil” como indicações geográficas e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 22 dez.2001.

BRASIL. Decreto nº 4.851, de 2 de outubro de 2003. Altera dispositivos do Regulamento aprovado pelo Decreto no 2.314, de 4 de setembro de 1997, que dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 2 out.2003.

BRASIL. Decreto nº 6.871, de 4 de junho de 2009. Regulamenta a Lei nº 8.918, de 14 de julho de 1994, que dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 4 jun. 2009.

BRASIL. Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 14 dez. 2006.

BRASIL.. Instrução Normativa nº 13, de 29 de junho de 2005. Aprova o Regulamento Técnico para Fixação dos Padrões de Identidade e Qualidade para Aguardente de Cana e para Cachaça. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 30 jun.2005, Seção 1, Página 3.

BRAUN, V. e CLARKE, V. Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, v. 3, n. 2, p. 77-101, 2006.

CARNEIRO, J. de D. S. et al. Opiniões e atitudes dos consumidores em relação a embalagens e rótulos de cachaça. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 30, n. 1, p. 669-673, 2010.

CHALITA, M. A. N.. A construção social e econômica do gosto e da preferência, o valor simbólico da mercadoria e o desempenho das exportações de cachaça. Informações Econômicas, v. 38, n. 5, p. 17-29, maio2008.

CORS - Center for Organization Studies. Planejamento estratégico para a cadeia produtiva da cachaça. São Paulo: USP, 2014.

COUTINHO, E. P. Dinâmica da modernização do setor de produção de aguardente de cana-de-açúcar no Brasil: construindo uma cachaça de qualidade. 2001. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

COUTINHO, E. P. Aspectos da evolução do mercado da cachaça. In: XXIIIEncontro Nac. de Eng. de Produção. Anais... Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 out.2003.

CRUZ, R. C. Narrativas de consumidores de cachaça e representações sociais: construção negociada de significados. 2009. 131 f.Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

CUNHA, M. N. e SOUZA, V. L. Publicidade, construção e reconstrução social: um estudo sobre o lugar das práticas de consumo e da publicidade nas transformações na imagem da cachaça no Brasil. In: XVIICongresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste - Ouro Preto - MG, 2012. Anais... Intecom: Ouro Preto.

CURRIE, G. e SPYRIDONIDIS, D. Interpretation of multiple institutional logics on the ground: actors’ position, their agency and situational constraints in professionalized contexts. Organization studies, v. 37, n. 1, p. 77-97, 2016.

DANIEL, R. C. Pequena produção de cachaça no interior paulista: a informalidade em questão. 2016. 164 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Ciências e Letras - UNESP, Araraquara, 2016.

DIAS, N. C. Entre Memórias Coletivas e Significações: o saber-fazer da cachaça artesanal de Paraty (RJ) como patrimônio cultural local. In: XVIIEncontro de História da Anpuh-Rio, 2016, Nova Iguaçu. Anais..., 2016. p. 1-13.

ESTEVANIM, M. A cachaça como produto da cultura maranhense. Revista Cambiassu, ano XVII, n. 4. p. 158-273, 2008.

FRIEDLAND, R. e ALFORD, R. R. Bringing society back in: symbols, practices and institutional contradiction. In: POWELL, W. W. e DIMAGGIO, P. J. The new institutionalism in organizational analysis: 232-263. Chicago, IL: The University of Chicago Press, 1991.

GREENWOOD, R. et al. Institutional complexity and organizational responses. The Academy of Management Annals, v. 5, n. 1, p. 317-371, 2011.

HILLS, S., VORONOV, M. e HINNINGS, C. R. Putting new wine in old bottles: utilizing rhetorical history to overcome stigma associated with a previously dominant logic. In: Institutional Logics in Action, Part B(Research in the Sociology of Organizations, Volume 39 Part B) Emerald Group Publishing Limited, v. 39, p. 99-137, 2013.

IMA - Institutito Mineiro de Agropecuária. Certificação Cachaça, 2016. Disponível em:<http://www.ima.mg.gov.br/certificacao/cachaca>.

INDI - Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais. Aguardente em Minas Gerais: estudo setorial. Belo Horizonte: INDI, 1982. 90p.

LEE, M. P. e LOUNSBURY, M. Filtering institutional logics: community logic variation and differential responses to the institutional complexity of toxic waste. Organization Science, v. 26, n. 3, p. 847-866, 2015.

LIMA, I. B., SILVA, L. H. e ROCHA, L. E. V. “Cachaça de minas” e desenvolvimento rural: Uma analise para o cooperativismo e agronegócio. Embrapa, 2010. Disponível em:<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/>.

LIMA, J. B. Oportunidades, identificação, exploração e construção de nova oportunidade no processo de exploração da produção de cachaça em Minas Gerais: o caso da cachaça Bocaina (Lavras-MG). In: MACHADO, H. P. V. (Org.). Empreendedorismo, oportunidades e cultura: seleção de casos no contexto brasileiro. Maringá: Eduem, 2013, p. 67-90.

LUVIZOTTO, C. K. As tradições gaúchas e sua racionalização na modernidade tardia[online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. 140 p.

MACHADO-DA-SILVA, C. L., GUARIDO FILHO, E. R. e ROSSONI, L. Campos organizacionais: seis diferentes leituras e a perspectiva de estruturação. Revista de Administração Contemporânea, ed. esp., v. 10, p. 159-196, 2006.

MARELLI DE SOUZA, L. et al. Produção de cachaça de qualidade. Piracicaba- ESALQ, 2013, 72p.

MINAS GERAIS. Decreto nº 34.645, de 14 de abril de 1993. Regulamenta a Lei nº 10.853, de 4 de agosto de 1992, que cria o Programa Mineiro de Incentivo à Produção de Aguardente - Pró-Cachaça, e dá outras providências. Diário do Executivo - “Minas Gerais” , 15 abr. 1993.

MINAS GERAIS. Lei nº 13.949, de 11 de julho de 2001. Estabelece o padrão de identidade e as características do processo de elaboração da Cachaça de Minas e dá outras providências. Diário do Executivo - “Minas Gerais”, 12 jul. 2001.

MOTKE, R. D., RAVANELLO, F. S. e RODRIGUES, G. O. Teoria institucional: um estudo bibliométrico da última década na Web of Science. CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão, v. 14, n. 2, 2016.

MURRAY, F. The oncomouse that roared: hybrid exchange strategies as a source of distinction at the boundary of overlapping institutions1. American Journal of Sociology, v. 116, n. 2, p. 341-388, 2010.

OLIVEIRA, A. R. D. et al. Análise da cadeia produtiva da cachaça em Minas Gerais sob a ótica da Economia dos Custos de Transação. Revista Custos e @gronegócio, v. 4, n. 3, p. 72-97, 2008.

OLIVEIRA, C. R. et al. Cachaça de alambique: manual de boas práticas ambientais e de produção. Convênio de Cooperação Técnica SEAPA / SEMAD / AMPAQ / FEAM / IMA, 2005.

OLIVEIRA, L. M. B. Inovação em um produto típico: a cachaça artesanal certificada de Minas Gerais. 2012. 227 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal.

OLIVEIRA, R. E. S. et al. Perfil e hábitos dos consumidores de cachaça no Estado da Paraíba. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 33, n. 1, p. 259-270, 2012.

PAIVA, A. L. P., SOUZA, R. B. e BARRETO, I. D. C. Perfil Das Exportações Brasileiras de Cachaça: Traços da Influência do Estado no Setor. In: 54ºCongresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. 2016. Anais...14 a 17 de ago., Maceió, Alagoas, Brasil, 2016

RAUD-MATTEDI, C. A construção social do mercado em Durkheim e Weber: análise do papel das instituições na sociologia econômica clássica. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 20, n. 57, p. 127-142, 2005.

RODRIGUES NETO, A. e FREITAS, L. S. Análise do processo de adaptação estratégica de uma empresa produtora de cachaça à luz da Teoria Institucional e da Visão Baseada em Recursos. REAd - Revista Eletrônica de Administração, Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 211-241, 2012.

SANTIAGO, R. Tributação injusta entre cachaça artesanal e industrial. Roberto Santiago Blog 2007. Disponível em:<http://robertosantiago.blogspot.com.br/2007/01/cachaa-x-tributao.html>.

SCOTT, R. W. Institutions and Organizations: Ideas and Interests. 3a. ed.Thousand Oaks, CA: Sage, 2008.

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas. Diagnóstico da Cachaça de Minas Gerais. Belo Horizonte,2001, 259 p.

SEBRAE. Cachaça artesanal. Série Estudos Mercadológicos, SEBRAE 2013- Relatório Completo. Disponível em:<http://goo.gl/TZ6edM>.

SILVA, F. R. Na embriaguês da cachaça: produção, imaginário e marketing (Minas Gerais 1982-2008) 2009. 111 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2009.

SILVA, F. R. e CRUBELLATE, J. M. Complexidade institucional: um estudo bibliométrico na publicação recente em teoria institucional. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa - RECADM, v. 15, n. 2, p. 116-132, 2016.

SILVA, V. F. De cabeça de porco à bebida de negro: um estudo sobre a produção e o consumo da aguardente nas Minas Gerais no século XVIII. 2015. 247 f. Dissertação (Mestrado) - UFMG, Belo Horizonte. 2015.

SMETS, M., GREENWOOD, R. e LOUNSBURY, M. An institutional perspective on strategy as practice. In: GOLSORKHI, D. et al. (Eds.), The Cambridge handbook of strategy as practice. 2. ed. 283-300. Cambridge: Cambridge University Press, 2015.

SMETS, M. e JARZABKOWSKI, P. Reconstructing institutional complexity in practice: a relational model of institutional work and complexity. Human Relations, v. 66, n. 10, p. 1279-1309, 2013.

SMETS, M. et al. Reinsurance trading in Lloyd’s of London: balancing conflicting-yet-complementary logics in practice. Academy of Management Journal, v. 58, n. 3, p. 932-970, 2015.

SORATTO, A. N., VARVAKIS, G. e HORII, J. A certificação agregando valor à cachaça do Brasil. Revista Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 27, n. 4, p. 681-687, out./dez. 2007.

SOUZA, M. A. F. e VALE, F. N. Considerações Estratégicas sobre a Indústria da Cachaça. In: Simpósio De Engenharia De Produção, 11., 2004, Bauru. Anais... Bauru: UNESP, 2004.

SOUZA V. L. O elo entre a produção, o consumo e a comunicação mercadológica da cachaça artesanal orgânica mineira. Publicatio UEPG: Ciências Sociais Aplicadas, Ponta Grossa, v. 20, n. 2, p. 169-77, jul./dez. 2012.

SOUZA V. L. e CUNHA, M. N. Aspectos sociais e publicitários na imagem da cachaça brasileira. Cadernos de Comunicação (UFSM), v. 17, p. 91-108, 2013.

THORNTON, P. H. e OCASIO, W. Institutional Logics. In: R. GREENWOOD et al. (Orgs.). The Sage Handbook of Organizational Institutionalism. Sage, 2008. p 99-129.

YU, K. Institutional Pluralism, Organizations, and Actors: A Review. Sociology Compass, v. 9, n. 6, p. 464-476, 2015.
 

5cee9b480e88250d6ca63c0f resr Articles
Links & Downloads

resr

Share this page
Page Sections