Revista de Economia e Sociologia Rural
https://revistasober.org/article/doi/10.1590/1806-9479.2020.209211
Revista de Economia e Sociologia Rural
ARTIGO ORIGINAL

A constituição de uma novidade organizacional no Sul do Brasil: avanços e limites da participação da agricultura familiar

Advances and limits of the counter-trends: social arenas of an organizational novelty in the South of Brazil

Monique Medeiros; Ademir Antonio Cazella; Andréia Tecchio; Flávia Charão Marques

Downloads: 1
Views: 699

Resumo

Resumo: As consequências negativas da “modernização” da agricultura têm induzido agricultores familiares, pesquisadores e mediadores sociais a construir ações de desenvolvimento rural que desviam do modelo hegemônico. Neste cenário, as “novidades” ou melhorias nos rearranjos de relações entre sociedade e tecnologia estão ocorrendo constantemente, não desprovidas de limitações. Este artigo discute as potencialidades e limites de processos de construção de uma novidade organizacional no litoral norte do Rio Grande do Sul, Brasil, com foco na participação de grupos de agricultores familiares. A investigação contemplou pesquisas documentais, participação observante e entrevistas semiestruturadas com agricultores familiares e mediadores sociais atuantes na região, realizadas entre meados de 2013 e o primeiro trimestre de 2016. Os resultados alcançados evidenciam que a consolidação da novidade organizacional assegura a reprodução socioeconômica de grupos de agricultores familiares, resgata costumes, fortalece vínculos sociais e reconecta esses agricultores à natureza. Entretanto, ainda que esse novo e desviante processo esteja propiciando transformações significativas na região, a apropriação de novos procedimentos sociotécnicos por apenas alguns grupos sociais faz com que outros, em especial aqueles constituídos por agricultores familiares vulneráveis socioeconomicamente, não participem das ações.

Palavras-chave

produção de novidade, reprodução socioeconômica, apropriação de discursos

Abstract

Abstract: The negative consequences of the agriculture modernization have induced family farmers, researchers and social mediators to construct rural development actions that deviate from the hegemonic model. In this scenario, the “novelties”, or improvements in the rearrangements of relations between society and technology, are occurring constantly, not devoid of limitations. This paper aims to discuss the potentialities and limits of the processes of construction of an organizational novelty in the North Coast of Rio Grande do Sul, Brazil, focusing on the participation of groups of family farmers. The research included documentary research, observational participation and semi-structured interviews with family farmers and social mediators working in the region between mid-2013 and the first quarter of 2016. The results show that the consolidation of organizational novelty ensures the socioeconomic reproduction of groups of family farmers, rescues customs, strengthens social ties and reconnects these farmers to nature. However, although this new and deviant process is causing significant transformations in the region, the appropriation of new sociotechnical procedures by only a few social groups means that others, especially those composed of socioeconomically vulnerable family farmers, do not participate in the actions.

Keywords

novelty production, socioeconomic reproduction, speeches appropriation

Referências

Diagnóstico socioeconômico e ambiental do município de Maquiné - RS: perspectiva para o desenvolvimento rural sustentável. 2000.

Agostini C., Bourscheidt H. J. A implementação do programa de aquisição de alimentos nos municípios do Vale do Taquari (RS): uma análise da percepção dos executivos municipais. Revista de Economia e Sociologia Rural. 2018;56(2):275-92.

Aquino J. R., Gazolla M., Schneider S. Dualismo no campo e desigualdades internas na agricultura familiar brasileira. Revista de Economia e Sociologia Rural. 2018;56(1):123-42.

Arce A., Long N. Reconfiguring modernity and development from an anthropological perspective. Anthropology, development and modernities: exploring discourses, counter-tendencies and violence. 2000:1-31.

Bourdieu P. P Les trois états du capital culturel. Actes de la Recherche en Sciences Sociales. 1979;30(1):3-6.

Perfil territorial: litoral - RS. 2015.

Capellesso A. J., Cazella A. A. Os sistemas de financiamento na pesca artesanal: um estudo de caso no litoral Centro-Sul Catarinense. Revista de Economia e Sociologia Rural. 2013;51(2):275-94.

Capellesso A. J., Cazella A. A., Búrigo F. L. Evolução do Pronaf Crédito no Período 1996-2013: redimensionando o acesso pelos cadastros de pessoa física. Revista de Economia e Sociologia Rural. 2018;56(3):437-50.

Caporal F. R. A extensão rural e os limites à prática dos extensionistas do serviço público. 1991.

Caporal F. R., Costabeber J. A. Agroecologia e extensão rural sustentável: contribuições para a promoção do desenvolvimento rural sustentável. 2004;1.

Carneiro M. J. Agricultores familiares e pluriatividade: tipologias e políticas. Mundo rural e tempo presente. 1999:323-44.

Cazella A. A. Contribuições metodológicas da sócio-antropologia para o desenvolvimento territorial sustentável. Eisforia. 2006;4:225-47.

Cazella A. A., Bonnal P., Maluf R. S. Agricultura familiar: multifuncionalidade e desenvolvimento territorial no Brasil. 2009.

Cotrim D. S., Garcez D., Miguel L. A. Litoral Norte do Rio Grande do Sul: sob a perspectiva de diferenciação e evolução dos sistemas agrários. 2007.

Doms M., Moscovici S. Innovation et influence des minorités. Psychologie sociale. 1984:51-89.

Fairclought N. Discurso e mudança social. 2001.

Ferreira A. D. D., Brandenburg A., da Silva O. H., Rodrigues A. S., Santos E. B., Pinheiro G. Resistência e empoderamento no mundo rural. Estudos Sociedade e Agricultura. 2007;15(1):123-59.

Foucault M. A ordem do discurso. 2003.

Fraser M. T. D., Gondim S. M. G. Da fala do outro ao texto negociado: discussões sobre a entrevista na pesquisa qualitativa. Paideia. 2004;14(28):139-52.

Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional. 2014.

Programa de Alimentação Escolar (PNAE): apresentação. 2011.

Gazolla M. Conhecimentos, produção de novidades e ações institucionais: cadeias curtas das agroindústrias familiares. 2012.

Gerhardt C. H. Agricultores familiares, mediadores sociais e meio ambiente: a construção da ‘problemática ambiental’ em agro-ecosistemas. 2002.

Giddens A. A constituição da sociedade. 1989.

Censo demográfico: Brasil 2010. 2010.

Jodelet D. Les processus psyco-sociaux de l’exclusion.. L’exclusion l’état des savoirs. 1996:66-77.

Lamarche H. A agricultura familiar. 1993.

Long N. Sociología del desarrollo: una perspectiva centrada en el actor. 2007.

Long N., Van der Ploeg J. Heterogeneity, actor and structure: towards a reconstitution of the concept of structure. Rethinking social development theory, research and practice. 1994:62-90.

Loyola P. R. G. Valor e mais-valia: examinando a atualidade do pensamento econômico de Marx. Revista de Filosofia Argumentos. 2009;1(2):130-8.

Marques F. C. Velhos conhecimentos, novos desenvolvimentos: transições no regime sociotécnico da agricultura: a produção de novidades entre agricultores produtores de plantas medicinais no Sul do Brasil. 2009.

Marx K. O Capital: crítica da economia política: livro 1. 2006;2.

Medeiros M. Sendas da sustentabilidade no desenvolvimento rural: os passos e os percalços da construção de um novo código sociotécnico em campo. 2017.

Mello M. Sementes que brotam da crise: a produção de novidades organizacionais na agricultura familiar do Oeste de Santa Catarina. 2009.

Moura Junior J. F., Ximenes V. M. A identidade social estigmatizada de pobre: uma constituição opressora. Fractal Revista de Psicología. 2016;28(1):76-83.

Nelson R. R., Winter S. G. In search of useful theory of innovation. Research Policy. 1977;6(1):36-76.

Nelson R. R., Winter S. G. Uma teoria evolucionária da mudança econômica. 2005.

Nicola M. P. Espaço protegido e desenvolvimento rural: práticas e trajetórias na Pecuária Familiar da Região Centro Sul do Rio Grande do Sul. 2015.

Oliveira D. Produção de conhecimentos e inovações na transição agroecológica: o caso da agricultura ecológica de Ipê e Antônio Prado/RS. 2014.

Oostindie H., Broekhuizen R. The dinamic of novelty production. Unfolding webs: the dynamics of regional rural development. 2008.

Pecqueur B. O desenvolvimento territorial: uma nova abordagem dos processos de desenvolvimento para as economias do Sul. Raízes. 2005;24(1-2):10-22.

Schumpeter J. A. Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre lucros, crédito, juro e o ciclo econômico. 1985.

Sen A. Desenvolvimento como liberdade. 2000.

Smith A. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. 1996.

Stuiver M. Regime, change and storylines: a sociological analysis of manure practices in contemporary Dutch farming. 2008.

Tecchio A. Políticas públicas de desenvolvimento territorial e superação da pobreza no meio rural brasileiro: estudo de caso no Território Meio Oeste Contestado (SC). 2012.

Tecchio A. Pobreza e territorialização da ação pública no Território Meio Oeste Contestado (SC). 2017.

Van der Ploeg J. D., Bouma J., Rip A., Rijkenberg F. H. J., Ventura F., Wiskerke J. S. C. On regimes, novelties, niches and co-production.. Seeds of transition: essays on novelty production, niches and regimes in agriculture. 2004:1-30.

Ventura F., Milone P. Novelty as redefinition of farm boundaries. Seeds of transition: essays on novelty production, niches and regimes in agriculture. 2004.

Vieira R. M. Teorias da firma e inovação: um enfoque neo-schumpeteriano. 2010.

Wiskerke J. S. C., Van der Ploeg J. D. Seeds of transition: essays on novelty production, niches and regimes in agriculture. 2004:1-28.


Submetido em:
24/07/2018

Aceito em:
20/10/2019

5f11e5ec0e8825e6491a886d resr Articles

resr

Share this page
Page Sections