Revista de Economia e Sociologia Rural
https://revistasober.org/article/doi/10.1590/1806-9479.2020.217798
Revista de Economia e Sociologia Rural
ARTIGO ORIGINAL

Clientelismo e participação nas políticas públicas de desenvolvimento rural no Brasil

Clientelism and participation in public policies for rural development in Brazil

Eric Sabourin

Downloads: 0
Views: 837

Resumo

O artigo trata da permanência de práticas clientelistas e das suas tensões com o enfoque participativo adotado no marco da política pública brasileira de desenvolvimento territorial rural, em particular no caso da implementação local do Programa Nacional de Desenvolvimento Territorial. Os resultados provêm do estudo do funcionamento do Colegiado Territorial e dos projetos implementados no Território Águas Emendadas no centro-oeste do Brasil. Recorre a um enfoque socioantropológico do clientelismo e da participação política mediante a análise da configuração social e das relações de instrumentalização tanto nos espaços participativos como nos projetos desse território. Os resultados mostram a existência de uma dimensão, não somente social, mas afetiva da prática de clientela que pode ser analisada como uma relação de reciprocidade assimétrica a partir do princípio da reciprocidade antropológica ou como um processo de intercâmbio político desigual, se for a partir da ciência política.

Palavras-chave

relações de clientela, reciprocidade, políticas públicas, participação política, Brasil

Abstract

The study discusses the permanence of clientelistic practices and their tensions with the participatory approach adopted within the framework of the Brazilian public policy of rural territorial development. It examines, in particular, the case of local implementation of the National Program of Territorial Development. The results come from the study of the Territorial Collegiate functioning and the projects implemented in the Águas Emendadas Territory in the Brazilian Midwest. It was used a socio-anthropological approach of patronage and political participation through the analysis of the social configuration and the relations of instrumentalization as much in as in the participatory spaces and the projects of this territory. The results show the existence of a not only social but also an affective dimension of clientele practice that can be analyzed as an asymmetrical reciprocity relationship based on the principle of anthropological reciprocity or as a process of unequal political exchange, considering political science approach.

Keywords

patronage relationship, reciprocity, public policies, political participation, Brazil

Referências

Avelino Filho G. Clientelismo e política no Brasil: revisitando velhos problemas. Novos Estudos CEBRAP. 1994;38:225-40.

Ávila M. Ação pública territorializada de desenvolvimento rural: o caso do Território Águas Emendadas. 2011.

Ávila M., Sabourin E., Duarte L., Massardier G. ATER e desenvolvimento territorial: uma análise crítica. Journal of Extension and Rural Studies. 2011;1(2):427-48.

Avritzer L. Sociedade Civil, Instituições Participativas e Representação: da Autorização à Legitimidade da Ação. Dados. 2008;50(3):443-64.

Avritzer L. Experiências nacionais de participação social.. 2009.

Bobbio N., Mateucci N., Pasquino G. Dicionário de política. 2007.

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 1988.

Referências para uma Estratégia de Desenvolvimento Rural Sustentável.. 2005.

Orientações aos cidadãos para participação na gestão pública e exercício do controle social. 2008.

Briquet J. L. La politique clientélaire. Clientélisme et processus politiques. Le clientélisme politique dans les sociétés contemporaines. 1998:7-38.

Bursztyn M. O poder dos donos. Planejamento e Clientelismo no Nordeste. 2008.

Callon M., Lascoumes P., Barthe Y. Agir dans un monde incertain. Essai sur la démocratie technique.. 2001.

Carvalho J. M. Mandonismo, coronelismo, clientelismo: uma discussão conceitual. Dados. 1997;40(2).

Carvalho J. M. A construção da ordem: a elite política imperial. Teatro das Sombras: a política imperial.. 2003.

Evangelical churches and conservative power in Latin America.. 2017.

Dagnino E. Anos 90: política e sociedade no Brasil.. 1994.

Dagnino E., Tatagiba L. Mouvements sociaux et participation institutionnelle, répertoires d’action collective et dynamiques culturelles dans la difficile construction de la démocratie brésilienne. Revue Internationale de Politique Comparée. 2010;17(3):167-86.

Egret L. Trajectoire de projets et stratégies d’acteurs dans le Territoire Aguas Emendadas (Brésil). 2013.

Elias N. A sociedade dos indivíduos.. 1994.

Faoro R. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 2001.

Farias F. P. Clientelismo e democracia capitalista: elementos para uma abordagem alternativa. Revista de Sociologia e Politica. 2000;15:49-65.

Freitas A. F. Por uma abordagem relacional do desenvolvimento territorial rural. Revista de Economia e Sociologia Rural. 2016;54(4):667-90.

Garcia Junior A. O Sul. caminho do roçado. 1990.

Geffray C. A opressão paternalista: cordialidade e brutalidade no cotidiano brasileiro. 2007.

Gohn M. G. Conselhos gestores e participação sociopolítica. 2011.

Goirand C. Clientélisme et politisation populaire à Rio de Janeiro. Le clientélisme politique dans les sociétés contemporaines. 1998:111-43.

Grisa C., Schneider S. Três gerações de políticas públicas para a agricultura familiar e formas de interação entre sociedade e estado no Brasil. Revista de Economia e Sociologia Rural. 2014;52(^sSupl. 1):125-46.

Grisa C., Wesz Junior V. J., Duarte V. B. Revisitando o Pronaf: velhos questionamentos, novas interpretações. Revista de Economia e Sociologia Rural. 2014;52(2):323-46.

Grossman E., Saurugger S. Les groupes d’intérêt au secours de la démocratie?. Revue Française de Science Politique. 2006;56(2):299-321.

Desenvolvimento rural. Políticas sociais: acompanhamento e análise. 2012.

Jesus Junior G., Costa Cosenza L. Z. A importância da participação popular através dos Conselhos Municipais na formulação e aplicação de políticas públicas no âmbito local. Jus.com.br. 2015.

Jobert B. Clientélisme, patronage et participation populaire. Revue Tiers Monde. 1983;24(95):535-56.

Jobert B., Muller P. L’État en action: politiques publiques et corporatisme.. 1987.

Landel P. Sociogenèse d’un projet de développement rural territorialisé: le cas du Marché Organique de Brasilia, Territoire Aguas Emendadas. 2009.

Lanna M. P. D. A dívida divina. Troca e Patronagem no Nordeste Brasileiro.. 1995.

Lecuyer L. Les représentants de l’agriculture familiale dans la politique participative territoriale brésilienne: de nouveaux leaders de l’action publique évoluant dans un système politique hybride. 2009.

Leite S. P., Wesz Junior V. J. Um estudo sobre o financiamento da política de desenvolvimento territorial no meio rural brasileiro. Revista de Economia e Sociologia Rural. 2012;50(4):645-66.

Martins J. S. O poder do atraso: ensaios de sociologia da história lenta. 1994.

Massardier G. Politiques et actions publiques.. 2008.

Massardier G., Sabourin E., Lecuyer L., Ávila M. L. La démocratie participative comme structure d’opportunité et de renforcement de la notabilité sectorielle. Le cas du Programme de Développement Durable des Territoires Ruraux au Brésil, Territoire Aguas Emendadas. Participations. 2012;1(2):78-102.

Mauss M. Œuvres. 1931;3:1968-9.

Medard J. F. Le rapport de clientèle: du phénomène social à l’analyse politique. Revue Française de Science Politique. 1976;26(1):103-31.

Nonjon M. Professionnels de la participation. Savoir gérer son image militante. Politix. 2005;2:89-112.

Nunes Leal V. Coronelismo, enxada e voto. O Município e o regime representativo no Brasil. 1948.

Oliveira J. H. Programa territórios da cidadania: multiplicar a ideia, focar as ações.. 2011.

Pellegrini Filho A., Rovere M. Participação social na definição e implantação de políticas públicas. 2011.

Perafan V. M. E., Sabourin E., Sayago D., Balestro M. O programa de desenvolvimento sustentável de territórios rurais. A difusão de políticas brasileira para agricultura familiar na América Latina e Caribe. 2018:89-114.

Polanyi K. The great transformation: the political and economic origins of our time.. 1944.

Porto de Oliveira O. International policy diffusion and participatory budgeting - ambassadors of participation, international institutions and transnational networks. 2017.

Sabourin E. Camponeses do Brasil, entre troca e reciprocidade.. 2009.

Sabourin E. Organizações e sociedades camponesas: uma leitura atraves da reciprocidade. 2011.

Sabourin E. Evolução da política federal de desenvolvimento territorial no Brasil. Novos Cadernos NAEA. 2015;18(1):123-43.

Sabourin E., Caldas E., Moreira I. Politiques de développement territorial et intercommunalité au Brésil: tensions et complémentarités. Revue d’Economie Méridionale. 2011;59(233-234):7-32.

Sabourin E, Tonneau J. P., Caron P. Seu Néné, leader paysan à Massaroca (Bahia, Brésil): une trajectoire Nordestine. Le Bulletin de l’APAD. 1997:102-7.

Sayago D. A. V. A invenção burocrática da participação: discursos e práticas no Ceará. 2000.

Schneider S., Silva M. K., Moruzzi M. P. Políticas Públicas e Participação Social no Brasil Rural.. 2003.

Scott J. C. Everyday forms of peasant resistance. The Journal of Peasant Studies. 1986;13:2.

Scubla L. Logiques de la réciprocité. 1985.

Temple D. Les structures élémentaires de la réciprocité. La Revue du MAUSS. 1998;12(2):234-42.

Temple D. Teoría de la reciprocidad.. 2003.

Toni F. Party Politics, Social Movements and Local Democracy: Institutional Choices in the Brazilian Amazon. 2007.

Wanderley M. N. B. Que territórios, que agricultores, que ruralidades?. Participação, território, cidadania: um olhar sobre a política de desenvolvimento territorial no Brasil. 2014:337-51.

Yazbek C. M. Classes subalternas e assistência social.. 1993.


Submetido em:
16/12/2018

Aceito em:
29/12/2019

5f1fefbb0e88254849dc6779 resr Articles

resr

Share this page
Page Sections