Revista de Economia e Sociologia Rural
https://revistasober.org/article/doi/10.1590/1806-9479.2021.233195
Revista de Economia e Sociologia Rural
Artigo Original

Produção para autoconsumo e segurança alimentar entre assentados rurais do Alto Xingu, Mato Grosso, Brasil

Production for self-consumption and food security of rural settlers in Upper Xingu, in Mato Grosso, Brazil

Natália Salaro Grigol; Silvia Maria Guerra Molina; Gustavo da Cunha Sant’Ana; Maria Elisa de Paula Eduardo Garavello

Downloads: 2
Views: 637

Resumo

Resumo: A diminuição da produção voltada para autoconsumo pode afetar negativamente a segurança alimentar e nutricional (SAN) e soberania alimentar das famílias rurais. Esta temática é relevante na região do Alto Xingu, em Mato Grosso, dada a mudança no uso da terra e a intensificação de fenômenos socioeconômicos como a crescente ocupação da força de trabalho de moradores e moradoras de áreas rurais em atividades não agrícolas. Este estudo objetiva caracterizar a produção de autoconsumo entre assentados rurais do Alto Xingu e relacioná-la com a SAN das famílias. Foram aplicados Recordatórios de 24 horas de consumo alimentar e entrevistas em profundidade em 43 unidades domésticas. Os resultados indicam que a produção para autoconsumo é relevante para a SAN e soberania alimentar dos assentados, principalmente para proteína animal. Contudo, a prática tem se enfraquecido neste contexto de transformações. Frente às pressões do entorno, identificou-se uma “ordem de desarticulação” das produções para autoconsumo, com destaque para a vulnerabilidade do cultivo de hortaliças e resistência da produção de frango e de árvores frutíferas. Por fim, o estudo destaca que a diminuição da produção para autoconsumo afeta, principalmente, a soberania alimentar e reprodução social das famílias, reforçando o processo de transformação socioeconômica em curso no meio rural.

Palavras-chave

produção para autoconsumo, segurança alimentar e nutricional, Alto Xingu

Abstract

Abstract: The reduced production for self-consumption may affect food and nutrition security as well as the food sovereignty of rural families. This is a relevant topic in the Upper Xingu region, in Mato Grosso, given the land-use change and the intensification of socioeconomic phenomena such as the growing workforce occupation of the rural areas’ residents, in non-agricultural activities. This study aims to identify food production for self-consumption among rural settlers in the Upper Xingu region, as well as to relate the practice to food security. For this, 24-hour dietary recall for food consumption and in-depth interviews were performed in 43 domestic units. Results show the importance of food production for self-consumption towards food security and food sovereignty, especially for animal protein. However, the practice has decreased over time in this context of changes. We identified an “order of disarticulation” of the production for self-consumption surrounding pressure and we highlight the vulnerability of growing vegetables and the resistance of the poultry and fruit tree production. Finally, the study emphasizes that the reduced production for self-consumption mainly affects families' food sovereignty and social reproduction, strengthening the socioeconomic changes taking place in the rural areas.
 

Keywords

food production for self-consumption, food security and food safety, Upper Xingu

Referências

Água Boa. Prefeitura Municipal. (2013a). Água Boa – Mato Grosso: a cidade coração do Brasil. Recuperado em 20 de outubro de 2020, de http://www.aguaboa.mt.gov.br/attachments/encarte_agua_boa_2013_a_cidade_coracao_do_brasil.pdf

Água Boa. Prefeitura Municipal. (2013b). História. Recuperado em 20 de outubro de 2020, de http://www.aguaboa.mt.gov.br/municipio/historia

Amaral, C. N., Coelho-de-Souza, G. P., Schuch, I., & Souza, M. (2016). Contribuições da produção de autoconsumo em quintais para a segurança alimentar e nutricional e renda em Jangada, Baixada Cuiabana, MT. Guaju, 2(1), 102-119. Recuperado em 16 de outubro de 2020, de https://revistas.ufpr.br/guaju/article/view/46425

Anjos, F. S., Caldas, N. V., & Hirai, W. G. (2009). A dimensão rural da insegurança alimentar: transformações nas práticas de autoconsumo entre famílias rurais do extremo Sul Gaúcho. Segurança Alimentar e Nutricional, 16(1), 1-17. Recuperado em 16 de outubro de 2020, de https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/san/article/view/1808

Bastos, Y. F., & Brasil, I. C. (2008). Impacto ambiental, agroecologia e reforma agrária: fatores que influenciam a transição agroecológica em Áreas de Preservação Permanente (APPs) no projeto demonstrativo do assentamento Jaraguá - Água Boa - MT. In Anais do IV Encontro da Associação Nacional de Pesquisas em Agricultura Sustentável (ANPPAS). São Paulo: ANPPAS. Recuperado em 13 de outubro de 2020, de http://www.anppas.org.br/encontro4/cd/ARQUIVOS/GT7-525-734-20080510184514.pdf

Bernard, H. R. (2011). Research methods in anthropology: qualitative and quantitative approaches. Plymouth: AltaMira Press.

Blum, R. (2001). Agricultura familiar: estudo preliminar da definição, classificação e problemática. In J. C. Tedesco (Org.), Agricultura familiar: realidades e perspectivas. Passo Fundo: Editora da UPF.

Brandão, C. R. (2007). Tempos e espaços nos mundos rurais do Brasil. Ruris, 1(1), 37-64.

Brasil. (1978, julho, 24). Resolução nº 12 da Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos (CNNPA), de 24 de julho de 1978. Fixa os padrões de identidade e qualidade para alimentos e bebidas. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília.

Brasil. (2006, setembro, 15). Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, SISAN, com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília.

Buainain, A. M., Alves, E., Silveira, J. M., & Navarro, Z. (2013). Sete teses sobre o mundo rural brasileiro. Revista de Política Agrícola, 22(2), 105-121.

Cândido, A. (1975). Os parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida. São Paulo: Duas Cidades.

Desmarais, A. A. (2013). A Via Campesina: a globalização e poder do campesinato. São Paulo: Cultura Acadêmica, Expressão Popular.

Domingues, M. S., & Bermann, C. (2012). O arco de desflorestamento na Amazônia: da pecuária à soja. Ambiente & Sociedade, 15(2), 1-22.

Dutra, L. V., Morais, D. C., Santos, R. H. S., Franceschini, S. C. C., & Priore, S. E. (2018). Contribution of the production for selfconsumption to food availability and food security in households of the rural area of a Brazilian city. Ecology of Food and Nutrition, 57(4), 282-300.

Ellis, F. (1998). Household strategies and rural livelihood diversification. The Journal of Development Studies, 35(l), 1-38.

Fontanella, B. J. B., Luchesi, B. M., Saidel, M. G. B., Ricas, J., Turato, E. R., & Melo, D. G. (2011). Amostragem em pesquisas qualitativas: proposta de procedimentos para constatar saturação teórica. Cadernos de Saude Publica, 27(2), 389-394.

Gazolla, M., & Schneider, S. (2007). A produção da autonomia: os “papéis” do autoconsumo na reprodução social dos agricultores familiares. Estudos Sociedade e Agricultura, 15(1), 89-122. Recuperado em 15 de outubro de 2020, de https://revistaesa.com/ojs/index.php/esa/article/view/283

Gil, A. C. (1995). Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas.

Grisa, C. (2007). Para além da alimentação: papéis e significados da produção para autoconsumo na agricultura familiar. Revista de Extensão Rural, 14, 5-35.

Grisa, C., & Schneider, S. (2008). “Plantar pro gasto”: a importância do autoconsumo entre famílias de agricultores do Rio Grande do Sul. Revista de Economia e Sociologia Rural, 46(2), 481-515.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. (2014). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – PNAD 2014. Rio de Janeiro: IBGE.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. (2020). Cidades@. Recuperado em 15 de outubro de 2020, de https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mt/agua-boa/panorama

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. (2013). A Produção para autoconsumo no Brasil: uma análise a partir do Censo Agropecuário 2006. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA.

Instituto Mato Grossense de Economia Agropecuária – IMEA. (2018). Recuperado em 29 de agosto de 2020, de http://www.imea.com.br

Instituto Socioambiental – ISA. (2010). Fique por dentro: a Bacia do Rio Xingu em Mato Grosso. São Paulo: Instituto Socioambiental, Instituto Centro de Vida.

Luzzardi, R. E. S., & Mauch, C. R. (2011). A segurança alimentar e a especialização do fumo da agricultura familiar no estado do Rio Grande do Sul: um processo de erosão alimentar? Redes (Bernal), 16(1), 199-212.

Maluf, R. S. (2003). A multifuncionalidade da agricultura na realidade rural brasileira. In M. J. C. Carneiro & R. S. Maluf (Orgs.), Para além da produção: multifuncionalidade e agricultura familiar. Rio de Janeiro: MAUAD.

Maluf, R. S. (2007). Segurança alimentar e nutricional com valorização da cultura alimentar. In D. S. Miranda & G. Cornelli (Orgs.), Cultura e alimentação: saberes alimentares e sabores culturais. São Paulo: SESC.

Mello, P. F. (2016). Assentamentos rurais no Brasil: uma releitura. Brasília: EMBRAPA.

Menasche, R., Marques, F. C., & Zanetti, C. (2008). Autoconsumo e segurança alimentar: a agricultura familiar a partir dos saberes e práticas da alimentação. Revista de Nutrição, 21(Supl.), 145s-158s.

Murrieta, R. S. (2001). Dialética do sabor: alimentação, ecologia e vida cotidiana em comunidades ribeirinhas da Ilha de Ituqui, Baixo Amazonas, Pará. Revista de Antropologia, 44(2), 39-88.

Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – FAO. (1996). Declaração de Roma Sobre a Segurança Alimentar Mundial e Plano de Acção da Cimeira Mundial da Alimentação. Recuperado em 13 de outubro de 2020, de http://www.fao.org/3/w3613p/w3613p00.htm

Pozzebon, L., Rambo, A. G., & Gazolla, M. (2018). As cadeias curtas das feiras coloniais e agroecológicas: autoconsumo e segurança alimentar e nutricional. Desenvolvimento em Questão, 16(42), 405-441.

Sanches, R. A., & Villas-Boas, A. (2005). Planejando a gestão em um cenário socioambiental de mudanças: o caso da bacia do rio Xingu. Revista de Administração Pública, 39(2), 365-380. Recuperado em 15 de outubro de 2020, de http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/view/6574

Schneider, S., & Xavier, L. A. (2013). Produção para autoconsumo no Brasil uma análise a partir do Censo Agropecuário 2006 – Relatório de Pesquisa. Brasília: IPEA.

Tecchio, A., Cazella, A. A., Sabourin, E., & Cortes, G. (2019). Estratégias alimentares de famílias pobres no Oeste de Santa Catarina, Brasil. Redes (Bernal), 24(3), 217-240.

van der Ploeg, J. D. (2006). O modo de produção camponês revisitado. In S. Schneider (Org.), A diversidade da agricultura familiar. Porto Alegre: Editora da UFRGS.

Vivas, E. (2017). O negócio da comida: quem controla a nossa alimentação? São Paulo: Expressão Popular.

Weissheimer, C., Sousa, O. L., Ramos, M. E. P. L., Assis, R. L., Campolin, A. I., & Feiden, A. (2007). Diagnóstico Rápido Participativo dos sistemas de produção num Assentamento de Reforma Agrária em região de Cerrado na Bacia do Alto Xingu. Revista Brasileira de Agroecologia, 2(2), 346-350.
 


Submetido em:
20/01/2020

Aceito em:
18/02/2021

60e5dcc0a95395337d199492 resr Articles
Links & Downloads

resr

Share this page
Page Sections