Revista de Economia e Sociologia Rural
https://revistasober.org/article/doi/10.1590/1806-9479.2021.245649
Revista de Economia e Sociologia Rural
Artigo Original

Pobreza e tomada de decisão financeira: evidências de uma pesquisa em assentamentos rurais no estado de Tocantins

Poverty and financial decision-making: evidence from a survey of rural settlements in the state of Tocantins

Fernando Sérgio de Toledo Fonseca

Downloads: 0
Views: 525

Resumo

Resumo: Uma vasta literatura recente na área de economia comportamental tem investigado como a pobreza afeta a tomada de decisão financeira, considerando vieses cognitivos no processo decisório individual. No Brasil, há pouquíssimos trabalhos empíricos que abordam a influência de vieses cognitivos na tomada de decisão das famílias pobres. O objetivo deste trabalho é avaliar empiricamente como as famílias pobres tomam decisões em relação à poupança. Foi realizada uma pesquisa de campo a partir de uma amostra intencional não probabilística em assentamentos rurais no norte do estado de Tocantins. Como estratégia para coleta de dados, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com responsáveis da unidade familiar. Conclui-se que a baixa capacidade de aspiração e o viés do presente, potencializados pela condição de pobreza, comprometem severamente a capacidade de poupança e a tomada de decisão em relação ao futuro dessas famílias. As escolhas feitas perpetuam sua condição de pobreza. Desse modo, algumas lições e sugestões são extraídas do estudo para o aprofundamento de pesquisas futuras e o aprimoramento do desenho de políticas.

Palavras-chave

escolha intertemporal, poupança, pobreza rural

Abstract

Abstract: A vast recent literature in the area of behavioral economics has investigated how poverty affects financial decision-making, considering cognitive biases in the individual decision-making process. In Brazil, there are very few empirical studies that address the influence of cognitive biases on poor families' decision-making. This paper aims to empirically assess how poor families make savings decisions. Field research carried out from an intentional non-probabilistic sample in rural settlements in the northern state of Tocantins. As a strategy for data collection, semi-structured interviews were conducted with heads of the family unit. It is concluded that the low capacity to aspire and the present bias, enhanced by the condition of poverty, severely compromise the ability to save and make decisions regarding the future of these families. Their choices perpetuate their condition of poverty. In this way, some lessons and suggestions are extracted from the study to deepen future research and improve policy design.
 

Keywords

intertemporal choice, savings, rural poverty

Referências

Abramovay, R. (Ed.). (2004). Laços financeiros na luta contra a pobreza. São Paulo: Annablume.

Aleem, I. (1990). Imperfect information, screening, and the costs of informal lending: a study of a rural credit market in Pakistan. The World Bank Economic Review, 4(3), 329-349.

Alsop, R., Bertelsen, M. F., & Holland, J. (2006). Empowerment in practice: from analysis to implementation. Washington, D.C.: World Bank Directions in Development.

Anderloni, L., & Carluccio, E. M. (2006). Access to bank accounts and payment services. In L. Anderloni, M. D. Braga & E. M. Carluccio (Eds.), New Frontiers in banking services: emerging needs and tailored products for untapped markets. New York: Springer.

Appadurai, A. (2004). The capacity to Aspire: culture and the terms of recognition. In V. Rao & M. Walton (Eds.), Culture and public action. Washignton: Standford University Press.

Ashraf, N., Karlan, D., & Yin, W. (2006). Tying Odysseus to the Mast: evidence from commitment savings products in the Philippines. The Quarterly Journal of Economics, 121(2), 635-672.

Banerjee, A., & Mullainathan, S. (2010). The Shape of Temptation: Implications for the Economic Lives of the Poor. NBER Working Paper, 15973.

Banerjee, A., & Duflo, E. (2012). A economia do pobres: repensar de modo radical a luta contra pobreza. Lisboa: Temas & Debates.

Baumeister, R. F., Bratslavky, E., Muraven, M., & Tice, D. M. (1998). Ego depletion: is the active self a limited resource? Journal of Personality and Social Psychology, 74(5), 1252-1265.

Benzion, U., Rapoport, A., & Yagil, J. (1989). Discount rates inferred from decisions: an experimental study. (2014). Management Science, 35(3), 270-284.

Bertrand, M., Mullainathan, S., & Shafir, E. (2004). A behavioral economics view of poverty. The American Economic Review, 94(1), 419-423.

Bianchi, A. M. (2018). O tempo das escolhas. Recuperado em 18 de setembro de 2018, de http://www.economiacomportamental.org/blog/

Breton, B. L. (2002). Todos sabiam: a morte anunciada do Padre Josimo (1. ed.). São Paulo: Loyola.

Carneiro, A., & Cioccari, M. (2010). Retrato da política de repressão no campo (1962-1985): camponeses torturados, mortos e desaparecidos. Brasília: MDA.

Case, A., & Deaton, A. (2009). Health and well‐being in Udaipur and South Africa. In D. A. Wise (Ed.), Developments in the economics of aging (317 p.). University of Chicago Press.

Cavalcante, M. E. S. R. (1999). Tocantins: o movimento separatista do Norte de Goiás (1921-1988). Editora UGC.

Chen, E., Cohen, S., & Miller, G. E. (2010). How low socioeconomic status affects 2-yearhormonal trajectories in children. Psychological Science, 21(1), 31-37.

Cohen, S., Doyle, W. J., & Baum, A. (2001). Socioeconomic status is associated with stress hormones. Psychosomatic Medicine, 68(3), 414-420.

Cole, S., Sampson, T., & Zia, B. (2010). Prices or knowledge? What drives demand for financial services in emerging markets? (Working Paper, pp. 9-117). Harvard Business School.

Collins, D., Morduch, J., Ruterford, S., & Ruthven, O. (2009). Portfolio of the poor: how the world’s poor live on two dollars a day. Princeton University Press.

Comissão Pastoral da Terra – CPT. (2019). Conflitos no Campo - Brasil. CPT Nacional.

Crocco, M. A., Santos, F., & Figueiredo, A. (2013). Exclusão financeira no Brasil: uma análise regional exploratória. Revista de Economia Política, 33(3), 505-526.

Dean, E. B., Schilbach, F., & Schofield, H. (2017). Poverty and cognitive function. In The economics of poverty trap. Cambridge: National Bureau of Economic Research.

DellaVigna, S. (2009). Psychology and economics: evidence from field. Journal of Economic Literature, 472, 315-372.

Dupas, P., & Robinson, J. (2013). Why don’t the poor save more? Evidence from health savings experiments. The American Economic Review, 103(4), 1138-1171.

Evans, G. W., Fuller-Rowell, T. E., & Doan, S. N. (2012). Childhood cumulative risk and obesity: the mediating role of self-regulatory ability. Pediatrics, 129(1), 68-73.

Flechtner, S. (2016). Aspiration and the persistence of poverty and inequalities (Dissertation). Internationatinales Institut für Management und ökonomische Bildung.

Frederick, S., Loewenstein, G., & O’Donoghue, T. (2004). Time discounting and time preference: a critical review. In C. F. Camerer, G. Loewenstein & R. Matthew (Eds.), Advances in behavioral economics. Princeton University Press.

Galab, S., Vennam, U., Komanduri, A., Benny, L., & Georgiadis, A. (2013). The impact of parental aspirations on private school enrollment: evidence from Andhra Pradesh, India (Young Lives Working Paper, No. 97).

Guedes, L. S. G., & Brito, J. L. S. (2014). Caracterização socioeconômica da microrregião de Araguaína. Observatorium. Revista Eletrônica de Geografia, 6(17), 91-103.

Haushofer, J., & Fehr, E. (2015). Sobre a psicologia da pobreza. In A. M. Bianchi & F. Àvila (Eds.), Guia de economia comportamental e experimental (1. ed., pp. 140-155). São Paulo: Economia Comportamental.

Haushofer, J., & Shapiro, J. (2013). Household response to income changes: evidence from an unconditional cash transfer program in Kenya (Working Paper). Massachusetts Institute of Technology.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. (2015). Pesquisa nacional por amostra de domicílios. Rio de Janeiro: IBGE.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. (2019).Síntese dos indicadores sociais. Rio de Janeiro: IBGE.

Instituto de Pesquisas Data Folha. (2017). Pesquisa sobre imediatismo brasileiro. Folha de São Paulo. São Paulo, Recuperado em 25 de janeiro de 2018, de http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/12/1942232-levantamento-revela-imediatismo-e-baixa-tendencia-a-poupanca-do-brasileiro.shtml.

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. (2010). Dimensão, evolução e projeção da pobreza por região e por estado no Brasil (Comunicados do IPEA, No. 58). Recuperado em 5 de julho de 2021, de http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/5293/1/Comunicados_n58_Dimens%c3%a3o.pdf

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA. (2018). Relatório geral dos assentamentos da reforma agrária. Recuperado em 7 de setembro de 2017, de http://painel.incra.gov.br/sistemas/index.php

Kahneman, D. (2012). Rápido e devagar: duas formas e pensar (1. ed.). São Paulo: Objetiva.

Karlan, D., Ratan, A. L., & Zinman, J. (2013). Savings by and for the poor: a research review and agenda (Economic Growth Center Discussion Paper, No. 1027).

Karlan, D., Yin, W., & Ashraf, N. (2006). Tying odysseus to the mast: evidence from a commitment savings product in the Philippines. The Quarterly Journal of Economics, 121(2), 635-672.

Laibson, D. (1977). Golden eggs and hyperbolic discounting. The Quarterly Journal of Economics, 62(2), 443-478.

Lehto, E., Konttinen, H., Jousilahti, P., & Haukkala, A. (2013). The role of psychosocial factors in socioeconomic differences in physical activity: a population-based study. Scandinavian Journal of Public Health, 41(6), 553-559.

Li, L., Power, C., Kelly, S., Kirschbaum, C., & Hertezman, C. (2007). Life-time socio-economic position and cortisol patterns in mid-life. Psychoneuroendocrinology, 32, 824-833.

Loewenstein, G., & Prelec, D. (1992). Anomalies in intertemporal choice: evidence and interpretation. In G. Loewenstein & J. Elster (Eds.), Choice over time (pp. 119-146). New York: Russell Sage Foundation.

Lupien, S. J., King, S., Meaney, M. J., & McEwan, B. S. (2001). Can poverty get under your skin? Basal cortisol levels and cognitive function in children from low and high socioeconomic status. Development and Psychopathology, 2001(13), 651-674.

Mani, A., Mullainathan, S., Shafir, E., & Zhao, J. Y. (2013). Poverty impedes cognitive function. Science, (341), 976-980.

Meier, S., & Sprenger, C. (2009). Discounting Financial Literacy: Time Preferences and Participation in Financial Education Programs (Working paper Microenterprise Program in Zimbabwe: Baseline Findings). Washington: AIMS.

Morduch, J., & Schneider, R. (2017). The financial diaries: how american families cope in a world of uncertainty. Princeton University Press.

Mullainathan, S., & Shafir, E. (2013). Scarcity: why having too little means so much (1st ed.). New York: Picador.

Nussbaum, M. (2011). Creating capabilities: the human development approach. Harvard University Press.

O'Donoghue, T., & Rabin, M. (2014). Doing it now or late. In C. F. Camerer, G. Loewenstein & R. Matthew (Eds.), Advances in behavioral economics (pp. 222-251). Princeton University Press.

Oliveira, G. A. (2010). Os posseiros e a luta pela terra no Bico do Papagaio 1964/1985: cultura e identidade (Tese de doutorado). Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília.

Oliveira, J. M. M. (2012). Estratégias separatistas e ordenamento territorial: a criação de Palmas na consolidação do estado do Tocantins (Tese de doutorado). Programa de Pós-graduação em Geografia, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia.

Peretti-Watel, P., L’Haridon, O., & Seror, V. (2013). Time preferences, socioeconomic status and smokers’ behavior, attitudes and risk awareness. European Journal of Public Health, 23(5), 783-788.

Phelps, E. S., & Pollak, R. A. (1968). On second-best national saving and game-equilibrium growth. The Review of Economic Studies, 35, 185-199.

Quidt, J. & Haushofer, J. (2016). Depression for economists (Working Paper, No. 22973). National Bureau of Economic Research.

Rabin, M. (1998). Psychology and Economics. Journal of Economic Literature, 36(1), 11-46.

Rutherford, S. (1999). The poor and their money: an essay about financial services for poor people. Institute for Development Policy and Management, University of Manchester.

Sen, A. K. (2010). Desenvolvimento como Liberdade. São Paulo: Companhia das Letras.

Shah, A. K., Mullainathan, S., & Shafir, E. (2012). Some consequences of having too little. Science, 338, 682-685.

Spears, D. (2011). Economic decision-making in poverty depletes behavioral control. The B.E. Journal of Economic Analysis & Policy, 11(1).

Strotz, R. H. (1956). Myopia and inconsistency in dynamic utility maximization. The Review of Economic Studies, 23(3), 165-180.

Thaler, R. (1981). Some empirical evidence on dynamic inconsistency. Economics Letters, (8), 201-207.

Thaler, R. (2015). Misbehavior the making of behavioral economics (pp. 87-98). New York: WW Norton Company.

Urminsky, O., & Zauberman, G. (2015). The psychology of intertemporal preferences. In G. Wu & K. Gideon (Eds.), Wiley-Blackwell handbook of judgment and decision making (Vol. II, pp. 141-181). Pondicherry: John Wiley.

Wang, W., Rieger, M. O., & Hens, T. (2016). How time preferences differ: evidence from 53 countries. Journal of Economic Psychology

World Bank Group. (2015). Mind, society and behavior (World Development Report). Washington, D.C.: World Bank.

World Health Organization – WHO. (2019). Fact sheet on depression. Washington, D.C.: World Bank.
 


Submetido em:
16/11/2020

Aceito em:
27/07/2021

61799295a953956081386153 resr Articles
Links & Downloads

resr

Share this page
Page Sections