Revista de Economia e Sociologia Rural
https://revistasober.org/article/doi/10.1590/1806-9479.2022.269304pt
Revista de Economia e Sociologia Rural
ARTIGO ORIGINAL

As casas, as estradas e os cercados: o sítio camponês a partir das classificações das crianças Capuxu

The house, the roads and the enclosures: the peasant ranch according to Capuxu children’s classification

Emilene Leite de Sousa

Downloads: 0
Views: 385

Resumo

Este artigo é uma etnografia do Sítio camponês a partir das classificações das crianças Capuxu, do sertão da Paraíba. Por meio da observação participante, das conversas informais e dos desenhos por elas produzidos, as crianças revelaram classificações do Sítio que diluem a clássica dicotomia casa/roçado formatada pelos estudos do rural (Woortman, 1983; Heredia, 1988; Garcia Junior, 1983, Godoi, 1999) apresentando a trilogia: casas, estradas (e seus atalhos) e cercados. Neste sentido, este artigo deseja ser uma contribuição aos estudos da infância e a antropologia da criança, bem como aos estudos de campesinato do Brasil. Ele parte da hipótese de que os estudos do rural elegeram a dicotomia casa/roçado como representativa dos espaços do sítio por terem ouvido em geral, homens e mulheres, e argumenta, conforme Schildkrout (1978), que as crianças deveriam ser sempre ouvidas sob pena de não se ter uma visão completa do tema em estudo.

Palavras-chave

sítio camponês, crianças Capuxu, classificações, etnografia, desenhos

Abstract

This article is an ethnography of the peasant ranch (sítio) as classified by Capuxu children, inhabitants of the hinterlands of the Brazilian state of Paraíba. Through participant observation, informal conversations, and the drawings produced by children, they revealed classifications of the ranch that blur the classic house/garden dichotomy established by rural studies (Woortman, 1983; Heredia, 1988; Santos, 1984; Garcia Junior, 1983; Godoi, 1999), revealing the triptych of houses, roads (and their shortcuts), and enclosures. In this sense, this article contributes to childhood studies and the anthropology of children, as well as to peasant studies in Brazil. It starts from the hypothesis that rural studies have elected the house/ garden dichotomy as representative of the spaces of the ranch because they have generally heard men and women. Following Schildkrout (1978), it arghues that children should always be heard lest we end up with an incomplete view of the subject under study

Keywords

peasant village, Capuxu children, classifications, ethnography, drawings

Referências

Almeida, A. W. B. (1986). Redescobrindo a família rural. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 1(1), 66-83.

Augè, M. (1994). Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade (4. ed.). Campinas, SP: Papirus.

Bourdieu, P. (1999). A casa kabyle ou o mundo às avessas.Cadernos De Campo (São Paulo-1991),8(8), 147-159. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v8i8p147-159.

Brandão, C. R. (1993). Parentes e parceiros In A. A. Arantes & C. R. Brandão (Eds.), Colcha de retalhos: estudo sobre a família no Brasil (205 p.). São Paulo: Editora da UNICAMP.

Carneiro, M. J. (1998). Camponeses, agricultores e pluriatividade (p. 228). Rio de Janeiro: Contra Capa.

Castro, E. M. R. (1997). Tradição e modernidade: a propósito de processos de trabalho na Amazônia. In Anais do 21° Seminário Temático Trabalho, trabalhadores e sindicatos: desafios teóricos. Encontro Anual da ANPOCS (pp. 31-48). Caxambu/MG.

Certeau, M. (1994). A invenção do cotidiano: artes de fazer (11. ed.). Rio de Janeiro: Editora Vozes.

Garcia Júnior, A. (1983). Terra de trabalho: trabalho familiar de pequenos produtores (236 p.). Rio de Janeiro, Paz e Terra.

Geertz, C. (1989). A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Editora Aplicada.

Gobbi, M. (2012). Desenhos e fotografias: marcas sociais de infâncias. Educar em Revista, 43, 135-147. Recuperado em 03 de dezembro de 2018, de http://www.scielo.br/pdf/er/n43/n43a10.pdf

Godoi, E. P. (1999). O trabalho da memória: cotidiano e história no sertão do Piauí. Campinas: Editora da Unicamp.

Heredia, B. M. A. (1988) [1979]. A morada da vida: trabalho familiar de pequenos produtores do Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

James, A., Jenks, C., & Prout, A. (1998). Theorising Childhood. Cambridge: Polity Press.

Martins, V. S., & Menasche, R. (2011). Trajetórias do lugar de viver em terra de Reforma Agrária. Retratos de Assentamentos, 14(1), 69-92. Recuperado em 03 de dezembro de 2018, de https://retratosdeassentamentos.com/index.php/retratos/article/view/77/67

Mead, M. (1985). Educación y cultura en Nueva Guinea. Barcelona: Paidos Studio.

Moura, M. M. (1978). Os herdeiros da terra: parentesco e herança numa área rural. São Paulo: Hucitec.

Paulilo, M. I. (1987, jan/fev). O peso do trabalho leve. Ciência Hoje, 5(28).

Pires, F. (2007). Ser adulta e pesquisar crianças: explorando possibilidades metodológicas na pesquisa antropológica. Revista de Antropologia, 50(1), 225-270. Recuperado em 03 de dezembro de 2018, de http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-77012007000100006

Pires, F. (2009). A casa sertaneja e o Programa Bolsa-Família: questões para pesquisa. Revista de Ciências Sociais Política & Trabalho, 27(27-34), 145-156. em 03 de dezembro de 2018, de https://periodicos.ufpb.br/index.php/politicaetrabalho/article/view/6808

Pires, F. (2011). Quem tem medo de mal-assombro?: religião e infância no semiárido nordestino. Rio de Janeiro: E-papers; João Pessoa: UFPB.

Pires, F. (2013a). Do ponto de vista das crianças: uma avaliação do Programa Bolsa Família. Estudos de Avaliação das Políticas do MDS. Brasília: SAGI/MDS.

Pires, F. F. (2013b). Comida de Criança e o Programa Bolsa Família: moralidade materna e consumo alimentar no semi-árido. Revista de Ciências Sociais Política & Trabalho, 38, 123-135. Recuperado em 03 de dezembro de 2018, de https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/politicaetrabalho/article/view/14575/9381

Pires, F. F. (2013c). Child as family sponsor: an unforeseen effect of Programa Bolsa Familia in northeastern Brazil. Childhood, 20, 1-20. Recuperado em 03 de dezembro de 2018, de http://chd.sagepub.com/content/early/2013/05/17/090756821348434

Pires, F. F., Falcão, C. R., & Silva, A. L. (2014). O Bolsa Família é Direito das Crianças: Participação Social infantil no Semiárido Nordestino. Teoria & Sociedade, 1(22), 141-167. Recuperado em 03 de dezembro de 2018, de https://teoriaesociedade.fafich.ufmg.br/index.php/rts/article/view/142

Pires, F., & Silva Jardim, G. A. (2014). Geração Bolsa Família: educação, trabalho infantil e consumo na casa sertaneja (Catingueira/PB). Revista Brasileira de Ciências Sociais, 29, 99-112. Recuperado em 03 de dezembro de 2018, de https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/HwRknCZrGtM4fk7nscdSw6h/abstract/?lang=pt

Ramos, M. O. (2007). "A comida da roça” ontem e hoje: um estudo etnográfico dos saberes e práticas alimentares de agricultores de Maquine (RS) (Dissertação de mestrado). PPGDR, UFRGS, Porto Alegre. Recuperado em 03 de dezembro de 2018, de https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/11918

Sarmento, M. J. (2011). Conhecer a infância: os desenhos das crianças como produções simbólicas. In A. J. Martins Filho & P. D. Prado (Orgs.), Das pesquisas com crianças à complexidade da infância. Campinas: Autores Associados.

Schildkrout, E. (1978). Age and gender in hausa society: socio-economic roles of children in urban kano. In J. S. La Fontaine (Ed.), Sex an age as principles of social differentiation. London: Academic Press.

Sousa, E. L. (2004). Que trabalhais como se brincásseis: trabalho e ludicidade na infância Capuxu (Dissertação de mestrado). Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. Recuperado em 07 de fevereiro de 2023, de http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/7112

Sousa, E. L. (2014a). Umbigos enterrados: corpo, pessoa e identidade Capuxu através da infância (Tese de doutorado). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Recuperado em 07 de fevereiro de 2023, de https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/130980

Sousa, E. L. (2014b). Nomear é trazer à existência: A onomástica (de crianças e de bichos) e os apelidos na produção da pessoa Capuxu. Revista de Antropologia, 15(2), 71-97. http://dx.doi.org/10.5380/campos.v15i2.40373.

Sousa, E. L. (2019). Capuxu - de vespa a grupo social: a produção da etnicidade em uma comunidade camponesa no Sertão da Paraíba. Vivência: Revista de Antropologia, 1(53), 188-203. http://dx.doi.org/10.21680/2238-6009.2019v1n53ID13267

Sousa, E. L. (2021). “Quem pode mais do que Deus”?: As crianças Capuxu e suas experiências com os malassombros.Mana, 27(1), 1-31. http://dx.doi.org/10.1590/1678-49442021v27n1a205

Sousa, E. L., & Pires, F. F. (2021). Entendeu ou quer que eu desenhe?: Os desenhos nas pesquisas com crianças e sua inserção nos textos antropológicos. Horizontes Antropológicos, 27(60), 61-93. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832021000200003.

Stropasolas, V. L., & Aguiar, V. V. P. (2010). As problemáticas de gênero e gerações nas comunidades rurais de Santa Catarina. In S. Parry, R. Cordeiro & M. Menezes (Orgs.), Gênero e geração em contextos rurais (pp. 159-183). Florianópolis: Ed. Mulheres.

Toren, C. (1993). Making history: the significance of childhood cognition for a comparative anthropology of mind. Man, 28, 461-478.

Wanderley, M. N. B. (2009). O mundo rural como espaço de vida: reflexões sobre a propriedade da terra, agricultura familiar e ruralidade. Porto Alegre: Editora da UFRGS.

Wolf, E. R. (1976). Sociedades camponesas (150 p.). Rio de Janeiro: Zahar.

Woortmann, E. F. (1983). O sítio camponês. Anuário Antropológico, 81, 164-203.

Woortmann, E. F. (1995). Herdeiros, parentes e compadres. São Paulo: Hucitec; Brasília: Ed. UnB.

Woortmann, E., & Woortmann, K. (1997). O trabalho da terra: a lógica e a simbólica da lavoura camponesa. Brasília: Ed. UNB.
 


Submetido em:
05/11/2022

Aceito em:
02/02/2023

6437f2f1a95395351c306d34 resr Articles
Links & Downloads

resr

Share this page
Page Sections